quarta-feira, 2 de setembro de 2009

FREVO CENTENÁRIO

Dia 9 de fevereiro de 2007, data festiva e de elevado astral para o povo pernambucano, foi comemorado o Centenário do Frevo, nosso ritmo maior, envolvente, empolgante.Oriundo do maxixe, dobrado e polca-marcha, o frevo surgiu de uma mescla de ritmos, tornando-se nesse amálgama inexplicável e colossal um todo individualizado com personalidade própria e indiscutível.

Não se sabe exatamente o exato limite dessa metamorfose musical, que inebria os milhões de foliões pernambucanos. Essa maravilha parece tomar conta do coração e do corpo inteiro daqueles que brincam, cantam, e vivem o nosso grandioso carnaval.Atingindo essa invejável idade, o ele percorreu ao longo de sua existência caminhos amargos, trilhas duvidosas e incertas.

Não raro, surge ali e acolá o boato de que ele morrerá , tal qual um paciente que padece na UTI esperando o momento final, ficando a mercê do tratamento que lhe seja ministrado, entregue a sua própria sorte...Contudo, sua garra, seu brilho, sua estrela se constituíram numa fortaleza muito maior do que os agouros que lhe fizeram por todo esse tempo.

Nessas crises inconcebíveis e não merecidas, por tudo de majestoso que ele possui, conseguiu superar a todas elas, dando a volta por cima, como quem diz: estou vivo, muito vivo e sempre vivo...O tratamento ingrato que muitos lhe deram não foi suficiente para derrubá-lo, pois, alguns poucos abnegados cuidaram e muito bem das seqüelas deixadas por aqueles que não lhe deram o lugar ao sol como merecia ao longo desses anos.

Com sua rica e exuberante linha melódica, rítmica e harmônica, fez valer o seu valor como ritmo singular que abrilhanta nosso tríduo momesco, levantando o astral do folião, envolvendo a todos no calor da multidão.Sua autenticidade permite essa coroação centenária, sendo a majestade do nosso carnaval que reina em trono único, não cabendo espaço para substitutos, nem daqui, nem tampouco alienígenas.

Temos, então, um inegável motivo de orgulho para os pernambucanos, pois, o frevo teve seu nascedouro em nossa terra natal, ultrapassou nossas fronteiras e deu seu recado no exterior, sendo por demais valorizado e enaltecido onde quer que chegue.Contudo, esse valor precisa ser reconhecido e autenticado pelos pernambucanos, já que temos esse ritmo como patrimônio maior da nossa música carnavalesca. Essa consciência precisa ser aguçada, revivida e exaltada, para que nos próximos anos ele não padeça desses males que o acometeram nesse primeiro século de vida.

Não fora sua resistência, própria de sua força e dinâmica rítmica, ele teria sucumbido de verdade, porém, teve fôlego para resistir a tudo e a todos, e ai está, revitalizado e altivo brilhando em mais um carnaval.Trazendo alegria, saudade e nostalgia, o frevo faz parte do cenário sentimental do nosso povo, que vive os carnavais de hoje, lembra os de outrora, e sonha com o do futuro, num ciclo que se renova a cada ano.

Assim, nosso frevo centenário se mescla no tempo e no espaço, como uma nuvem que passa carregada de euforia, com espírito jovem e experiência do ancião que não teme o futuro, já que mantém sempre seu astral elevado, ao som indelével dos metais e palhetas que estarão sempre ecoando através dos tempos.Viva ao nosso Frevo Centenário!!!

FREVO NO CORAÇÃO E NO PÉ

Publicado no Site Jangada Brasil - Ano 3 - Setembro 2001 - nº 37

Após um período em que esteve hibernado, refazendo suas forças, o frevo ressurge com o vigor daqueles que não desistem, e sempre saem vitoriosos. Já nos últimos anos, nosso ritmo maior dava mostras de que nascera para reinar e que ocupa o coração do povo pernambucano.
Nesse ressurgimento, sempre altivo e brilhante, retoma o espaço nobre e único em nossa cena musical que a ele sempre pertenceu.


É gratificante vermos inúmeras crianças, inclusive, de tenra idade, fazendo passo e sorrindo ao som do frevo, muitas delas, ainda no descompasso, mas demonstrando um raro ar de felicidade. Esses pequeninos anônimos representam a semente do frevo, que irá brilhar no futuro.

Nada obstante o respeito que temos com os compositores de nossa antologia carnavalesca, protagonistas que foram - da época de ouro do frevo - , temos que estimular os novos talentos, que darão continuidade ao trabalho deixado pelos gênios de outrora.

Contudo, essa responsabilidade é de todos nós, do povo, do poder público e principalmente das emissoras de rádio,(excetuando a Rádio Universitária, que sempre prestigiou o frevo), que já estão ajudando na sua valorização.


Mesmo existindo várias edições em CD com novas composições, insistem em levar ao ar gravações históricas e que já tiveram sua época de glória. Não esquecemos que todo e qualquer trabalho que se faça nos dias de hoje, foi espelhado no exemplo e qualidade das obras do passado.


O legado de Nelson Ferreira, Capiba, Levino Ferreira, Carnera, Luiz Bandeira, Edgard Moraes, Lourival Oliveira, entre tantos outros, são o estímulo para que nova safra de compositores apareça e quem sabe, venham a fazer nossa história no futuro.

A divulgação dos novos compositores é mais do que necessária. Precisamos renovar a forma poética, melódica e harmônica nos gêneros de frevo que temos. Um outro fato que merece ser repensado, é a renovação dos arranjadores.


A experiência vivida por Duda, José Menezes, Clóvis Pereira, Edson Rodrigues, Ademir Araújo - para citar somente esses -, à frente de suas orquestras, ou mesmo trabalhando em outras, não foi oportunizada ultimamente na dimensão devida. Tanto é verdade, que muitas delas foram desativadas, por falta de espaço para tocar o frevo nos Clubes e nas ruas.

Desponta neste cenário, isoladamente, Spock, que já deu provas de seu talento e versatilidade nos arranjos que realizou.
Contudo, o frevo merece e precisa de muito mais. Já é hora de termos cursos da espécie, para que se promova a renovação desse quadro.

A composição de frevo ou de qualquer outra música completa-se em sua qualidade, através da orquestração. Se não temos profissionais qualificadas para esse exercício, certamente o resultado não será o melhor. Acredito que esse é um dos fatores que poderá viabilizar o frevo do futuro, que certamente contribuirá para o futuro do frevo...

NOSSOS PODERES CONSTITUÍDOS: qual a diferença entre eles?

Publicado no Diário de Pernambuco
05 05 2009

Certamente o tema é muito discutível pela abrangência que tem. Mas, se nos debruçarmos na história, veremos que não é tão difícil chegar a uma conclusão lógica. Por questão de justiça e bom senso, não queremos generalizar e caracterizar como sendo único o perfil dos mesmos.

Contudo, ao longo dos anos os fatos se repetem como que num ciclo interminável deixando-nos perplexos, mas, admitindo, algumas exceções. As manchetes dos jornais, bem como os noticiários das rádios e televisões refletem o caos em que vivemos sendo uma constante fatos que denigrem esses poderes.

Nesse contexto, afloram a cada dia os escândalos que já se constituem numa rotina da vida nacional, envolvendo uma expressiva camada daqueles que elegemos esperando que viessem a cumprir as inúmeras promessas de campanha.

Totalmente dependente da classe política, o povo tem viva a esperança de mudanças em suas atitudes, a fim de lograr dias melhores em suas vidas.Na prática o prometido é totalmente esquecido, sendo tão somente lembradas as iniciativas de interesse pessoal que se sobrepõem às do povo que os aclamou.A população fica atônita sem saber mais em quem votar.

Os chamados partidos nanicos servem como verdadeiros "trampolins" para abrigar os interesses escusos de muitos deles, e se somarmos o contingente dos que ali estão, teremos um expressivo número.Valendo-se da fragilidade do nosso sistema eleitoral, os governos (sem exceção), buscam apoio naqueles partidos inexpressivos para conseguirem a tão falada governabilidade, pois, sem eles, torna-se inviável manter-se no poder.Assim, a cada ciclo eleitoral a história não muda, por conta de um sistema falho e corrompido, favorecendo tão somente a eles.

As falcatruas que se sucedem são fruto dessa insensatez, que no silêncio da noite são planejadas e postas em prática em detrimento dos reais interesses do povo.

Infelizmente, esses fatos não se restringem aos políticos, pois acontecem, também, no âmbito do judiciário e nas próprias polícias em suas diversas esferas. Esses últimos seriam o reduto final do cidadão de bem, mas esbarramos nos desmandos os mais variados, deixando clara a vulnerabilidade que temos em preservar nossos direitos que estariam garantidos em nossa Carta Magna.


Com isso, a desonestidade, a improbidade administrativa e a impunidade oportunizam novas ações nefastas, maculando o perfil desses poderes que deveria ser exemplar.Esse status quo reduz a credibilidade nacional perante as nações, e mesmo se tratando de um país emergente do ponto de vista econômico, fica a deriva no campo ético-moral perante todo o mundo.

Enfim, nenhum desses poderes busca fazer a almejada diferença, visto que, suas posturas são assemelhadas em número, gênero e grau.



DESRESPEITO ÀS LEIS DE TRÂNSITO

Diário de Pernambuco
Opinião 15 08 2009


Não é de hoje, que nos deparamos com inúmeras irregularidades no transito do Recife, estendendo-se a região metropolitana. A principio, referimo-nos aos ciclistas que irresponsavelmente e à sombra da falta de fiscalização, transformam nosso transito num verdadeiro caos.

Trafegam pela contramão contrariando frontalmente o Código de Trânsito Brasileiro, no seu Artigo 58 que reza:

“Nas vias urbanas e nas rurais de pista dupla, a circulação de bicicletas deverá ocorrer, quando não houver ciclovias, ciclofaixa, ou acostamento, ou quando não for possível a utilização destes, nos bordos da pista de rolamento, no mesmo sentido de circulação regulamentada para a via, com preferência sobre os veículos automotores” (grifo nosso).
Lamentavelmente, essa norma não e respeitada. Agindo dessa forma, põem em risco suas próprias vidas, e conturbam o tráfego dos veículos que circulam na direção correta, segundo as leis vigentes.

Ressaltamos, ainda, que as bicicletas não possuem nenhuma sinalização luminosa que facilite a sua visibilidade, e minimize os acidentes que rotineiramente acontecem a noite.

Obviamente, seus condutores são responsáveis por um grande número de acidentes, pois, além de danificarem retrovisores dos veículos, causam outros danos materiais, avançam sistematicamente os sinais e cometem outras barbaridades no conturbado transito do Recife.

As motos também fazem parte desse desrespeito, e não raro, seus condutores sentem, também, ter “esse direito” de trafegar de qualquer jeito, para chegar ao destino desejado.

Acontece, porém, que seus trajetos são muitas vezes interrompidos por sérios acidentes que resultam em mortes ou graves seqüelas para os condutores e acompanhantes, sendo estatisticamente um dos maiores responsáveis pelos atendimentos emergências em nossos nosocômios.

Como conseqüência desse descaso, além dos danos materiais, há, também, grandes prejuízos aos cofres públicos com os atendimentos hospitalares, seguro desemprego, aposentadoria precoce por invalidez, entre outros.

Essa vultosa quantia poderia ser destinada a outros socorros que a população carece, caso houvesse uma fiscalização preventiva por parte das autoridades responsáveis pelo trânsito.

Um outro agravante ocorre por conta dos carroceiros que “estacionam” em qualquer lugar, preferentemente, nas esquinas, dificultando a circulação dos veículos, e não raro, encobrindo a visão dos motoristas.

Como se não bastasse tudo isso, há ainda, um total desrespeito por parte dos condutores de veículos de tração animal, disciplinado pelo Artigo 52 do referido Código:

“...Os veículos de tração animal serão conduzidos pela direita da pista, junto á guia da calçada (meio fio).... devendo seus condutores obedecer, no que couber, às normas de circulação previstas neste Código...”. Nada disso acontece...

O problema é crônico, pois, mesmo no tempo do DETRAN, que era o Órgão responsável pelo nosso trânsito, nada foi feito para coibir tais excessos.

Temos agora, a CTTU, que foi instituída há alguns anos para cumprir esse mister, mas não vem realizando as esperadas ações preventivas, desrespeitando o Artigo 3º. Das Disposições Preliminares do referido Código, que lhe confere a responsabilidade de gerir nosso trânsito de forma segura. Se alguma ação vem sendo realizada, nada de concreto vimos até hoje...

Diário de Pernambuco
Opinião dia 30 07 2009

BLOCO DA SAUDADE


Oportuna e muito feliz a iniciativa do Deputado Antônio Moraes, ao propor na Assembléia Legislativa que o Bloco da Saudade fosse considerado Patrimônio Cultural Imaterial de Pernambuco.

O sonho de Edgard Moraes aliado ao ideal de Antonio José Madureira e Marcelo Varela concretizou-se em 1974, e a cada ano se solidifica, quando nos deleitamos com as belas e grandiosas apresentações desse exuberante Bloco carnavalesco.

A história dos nossos carnavais jamais será contada sem a citação do Bloco da Saudade, por ser ele o baluarte dos nossos festejos de momo, pelo muito que representa para Pernambuco.

Os anos passam e os carnavais se sucedem com as oscilações socioeconômicas, onde outrora os bailes dos clubes eram o ponto alto do nosso tríduo momesco, e depois, veio a predominância do carnaval de rua.

Em qualquer dos contextos, os blocos cantam e en(cantam) com belas fantasias e canções que contagiam os foliões.

A valorização dos nossos festejos faz parte da preservação da nossa historia e precisa ser cada vez mais cultivada, para que esses registros se tornem elementos de pesquisa de um presente que um dia será passado.

Sem essa postura padeceremos pela omissão, e seremos um povo sem uma memória que possa inspirar outras gerações, para esse cultivo tão necessário que certamente fortalecer o nosso acervo cultural.

Esse mister não cabe somente aos homens públicos, engloba, também, a sociedade como um todo, os artistas, os historiadores e escritores que devem ter essa co-responsabilidade com as nossas causas e coisas.

Assim, teremos um espelho do que hoje vivenciamos e que servira de parâmetro para reflexão e estudo no futuro do comportamento do povo em nossa época, e também, para avaliação das mudanças que o tempo se encarregara de fazê-las.

A Lei que contempla o Bloco da Saudade como Patrimônio Cultural Imaterial de Pernambuco, faz reviver o sentimento de pernambucanidade que deve estar sempre presente em todos nós, pela tradição e valores que temos no âmbito da cultura carnavalesca.

O gáudio é de todos os Blocos que em uníssono fazem o nosso carnaval, proporcionando um sentimento único e nostálgico ao relembrarmos os carnavais do passado, e na efusão dos carnavais de hoje, vislumbrarmos uma tênue sombra da saudade que vai chegar...

Parabéns ao Bloco da Saudade, ao Deputado Antonio Moraes pela iniciativa e ao povo pernambucano por mais uma conquista que fará parte da nossa historia.